Uma criança com infância bem estruturada tornar-se-á um adulto seguro de si capaz de compreender as frustrações da vida e possivelmente superar. Uma criança que não teve esse caminho de amor, essa forma de amar violenta ou desatenta que recebeu, a qual alguns chamam de desamor, acaba com a inocência, acaba com a infantilidade, produz adultos egoístas. A relevância de saber o impacto desse amor na vida das pessoas e o que de bom ou ruim esse amor traz é o mesmo que pensar no passo a passo para construção de um edifício, se a base não for colocada corretamente o edifício vai sobreviver precisando de reformas, vai sobreviver escorado em alguma coisa, ou ainda, pode desabar sozinho ou trazendo os que estão ao seu lado.
Como é feita a criação nos dias atuais, muitas configurações familiares deixam as crianças a deriva, achando que o outro membro da família fará a parte de doar-se para a criança, além de educação, alimentação e da nutrição do cérebro, a criança necessita de carinho e muito amor.
A criação de um filho influencia diretamente no desempenho dele como pessoa. Torná-lo um adulto responsável, respeitador do próximo, uma pessoa capaz de assumir seus acertos e seus erros. Mas também pode acabar por prejudica-lo em seu desenvolvimento tornando-o um adulto dependente, rebelde, sem estímulos ousem vontade de seguir em frente.
Erik Erikson nos diz que as crianças passam por fases durante todo seu crescimento que, quando bem-sucedidas farão com que essa adolescente se torne uma pessoa, um adulto pleno, sem grandes conflitos. Caso alguma dessas fases não se conclua com desenvoltura, podem deixar marcas que, dificultaram a passagem de outras fases, podendo o adolescente e futuro adulto tornar-se por exemplo ressentido, ranzinza, uma pessoa triste.
A família, quando unida e centrada na educação dessa criança, traz a paz e serenidade para que ela cresça e se torne dono da sua própria vida. A importante presença dos pais e outros membros do ciclo familiar que rodeiam a criança na sua criação, torna-se responsável por todo o desenvolvimento esse vínculo afetivo que se inicia na mais tenra infância,
Segundo Winnicott (1958) no início da vida, a dependência ao ambiente é absoluta, o bebê que tem as exigências da própria vida, fome, higiene, afeto. Por outro lado, um ambiente ansioso, que faz com que o bebê consiga, desse encontro, alcançar experiências de sua satisfação, como o sugar o seio, por simples prazer de fazê-lo, ou chupar os dedos, ao serem integrados essas duas experiencias, formam a constituição da psiquê, ou seja, sentimentos, pensamentos e percepções, que permitem ao ser humano se relacionar e se adaptar ao meio em que vive. E em suas relações mais estreitas com o Soma, que são as atitudes típicas de caráter, que um indivíduo desenvolve como um bloqueio contra a sua excitação emocional, resultando em rigidez no corpo e falta de contato emocional. (Martins Fontes, 2005 - A família e o desenvolvimento individual).
A conquista de uma experiência psicossomática como fruto desse movimento da relação entre a psiquê e o soma, se constitui fundamental para as emoções futuras, isso porque, ao lado desse movimento que dá início a unidade “psicossomática”, o acumulo de memórias e o desenvolvimento das expectativas futuras possibilitam o alcance de um sentimento de EU.
Quando a criança não recebe atos de amor de sua família ou de quem está a sua volta cuidando de sua interação com o mundo, se o ambiente onde ela está inserida é hostil e ela não consegue sentir o calor necessário para se desenvolver plenamente, a criança acaba por fazer uma adaptação no seu mundo interno, do que foi esse amor recebido, ou da forma como esse amor foi repassado para ela
Winnicott (1958) ressalta como ponto de partida a importância dos cuidados maternos em oferecer um ambiente que possibilite essa integração psicossomática, para que o bebê possa lidar progressivamente com as falhas ambientais que a mãe suficientemente boa, vai aos poucos inserindo. Nesse contexto o autor destaca como funções maternas o handing, que são os cuidados com o corpo, a apresentação de objetos, cuja recorrência permite que o bebê possa efetivar a criação dos objetos subjetivos e o holding, que seria o segurar o bebê com segurança, fundando o campo de ilusão e da confiança à existência psicossomática. O holding marca o exercício principal para que a mãe se identifique com o bebê, esse estado afetivo especial lhe permite perceber quais são as necessidades do bebê e como as deve satisfazer, qual seu tempo, seu ritmo, sua intensidade, suas modulações. O holding funciona como uma sustentação à continuidade do ser, como suporte a unidade psique-soma, como proteção à possibilidade de não existência ultrapassando as características apenas físicas do sustentar para o holding psicológico, que poderá ser revivido, no sentido analítico, nas situações de regressão e dependência. (Martins Fontes, 2005)
Erik Erikson (1963), sugere que passamos por crises durante a vida, uma crise antecede a outra, completadas por tarefas básicas para se passar para a próxima fase da vida. O dilema que se instala é o de que a pessoa pode não solucionar os conflitos de uma fase e carrega-los para a próxima. Uma sequência de sucessos resulta em um desenvolvimento saudável e satisfatório, resultados desfavoráveis nos desequilibram tornando mais difícil passar para a próxima etapa e seguir adiante. (Afonso, R.M.L, 2012, pg.288).
Uma criança que passou pelas fases de seu desenvolvimento carregando mais frustrações e perdas do que recebendo carinho e amor, então, refletiria numa criança sem condições psíquicas para enfrentar uma adolescência saudável. Podendo tornar-se um adolescente melancólico, agressivo, depressivo etc.
Sabemos, hoje, que o adolescente e o adulto resultam de sua própria natureza, das figuras parentais, da família, dos grupos sociais em que viveu e vive, da escola da cultura e da sociedade com seus valores, crenças e normas práticas. Onde se ressalta a primeira infância como papel principal, junto com o período gestacional representa o principal momento de estruturação neuropsicológica e social do indivíduo (...). O cérebro é vulnerável aos efeitos adversos do ambiente e é, igualmente susceptível aos efeitos positivos de ambientes ricos e equilibrados de aprendizagem e a boas relações de cuidado. (Ribeiro, A.F, 2012, p.27).
Quando se pensa em ter um bebê, desde o seu planejamento até a sua gestação todas as fases interferem na vida desse sujeito. Um bebê desejado, planejado, por seus pais tem maiores chances de ter um desenvolvimento nas fases da infância satisfatório. Pais que planejam seus filhos pensam nas fases da criação, desde a nutrição na gestação até a adequação dos brinquedos, de acordo com o desenvolvimento da criança, a casa vai se modificando de acordo com a necessidade do mesmo, tornando-se um lar saudável e acolhedor para a criança, fortalecendo o elo entre pais e filhos.
Para alguns teóricos o verdadeiro núcleo do desenvolvimento social está no apego emocional ou elo emocional que a criança cria com seus cuidadores primários. O primeiro ano de vida é um período sensível onde o desenvolvimento deve ser o melhor possível. Uma casa segura estimula a criança a explorar, um sinal que o elo correto foi estabelecido, o que ocorre por volta dos 8 aos 12 meses de idade quando a criança apresenta a ansiedade da separação. Quando esta fica só com uma pessoa estranha o choro pode ser sinal de medo). De acordo com a Psicóloga Mary Ainworth (1913-1999) a qualidade do apego é revelada pela forma como os bebês agem quando a mãe retorna após uma separação breve, elos bem-criados demonstram uma maior maturidade emocional, mas, mesmo ao se aborrecerem quando a mãe se ausenta, procuram ficar próximas quando a mãe retorna.
Como exemplo citamos que crianças criadas em orfanatos, quando adotadas, acabam por sair prontamente com estranhos, são ansiosas e distantes, não gostam de ser tocadas e se recusam a fazer contato visual com os outros.
Quando a criança recebe disciplina de seus pais elas se tornam adolescentes seguros de si e conseguem responder prontamente e com mais sensibilidade o que a vida lhes oferece, podem tornar-se adolescentes e adultos, posteriormente, confiantes de si próprios
Crianças que receberam castigos físicos, duros ou severos, acabam por tornarem-se desafiadoras, rebeldes e agressivas, enfrentam seu medo e o associam ao ódio. Alguns pais se utilizam da retirada do amor, ameaçam ir embora e deixa-las para trás, fazendo com que essa criança não se sinta merecedora do seu amor. Outros pais combinam orgulho, reconhecimento, aprovação, regras, argumentação e o incentivo dos comportamentos desejáveis. Cada forma de educar cria efeitos colaterais para a vida da criança, para o bom ou para o mal desenvolvimento, muitas vezes a criança sequer entende o que está se passando, visto que o pai não explica seus atos e ela só faz cumprir ordens.
Para Don Dikmeyer e Grey Mackay (1997), dois ingredientes chave, para um pai ou mãe eficaz, são comunicação e a disciplina. Pais precisam atingir equilíbrio entre liberdade e orientação em cada uma destas áreas. A criança deve se movimentar facilmente se expressar pela fala e por seus atos, não é “fazer o que quiserem”, mas, dentro de um limite estabelecido de comportamento aceitável, cada pai ou mãe tem limites mais ou menos rígidos. Disciplina coerente dá a criança, a sensação de segurança e estabilidade. A disciplina aleatória faz a criança se sentir confusa e zangada, porque ela não consegue controlar as consequências do seu próprio comportamento, essa incoerência também transmite a mensagem “Não acredite no que eu digo, porque eu geralmente não falo sério”.
A família influencia o indivíduo durante toda a vida, constitui, de acordo com o Lidz (1983), "um fenômeno universal, por que os seres humanos desenvolvem-se de tal modo que a família é um correlato essencial de sua formação biológica". Assim, ela o atinge desde antes de seu nascimento e acompanha até mesmo após a sua morte, extrapolando os limites existenciais do sujeito.
A família do passado vinculava-se à defesa da estrutura familiar, o pai era o mantenedor. Na maioria das famílias antigamente, o pai era a única fonte de renda, ditava as ordens e a esposa e os filhos, seguiam sem questionamentos. Essa família tradicional continua como núcleo sólido de convivência, o que tem se modificado e a aparição de novos núcleos familiares amparados por decisões judiciais e constitucionais.
A família atual não está apenas centrada no casamento, ela também se forma por outros modos. As famílias agora se preocupam mais com a felicidade de todos os seus membros. Pai e mãe, na família heterossexual e a bio afetiva, no casal homoafetivo, as formações familiares novas, onde um dos membros da família se ausenta por morte ou pela necessidade de formar uma outra família. Atualmente visa-se uma convivência considerando atos que possibilitem a felicidade, famílias nas quais o prazer e a felicidade de todos são seu objetivo lógico, não mais a união estável vivenciada no passado ou presa a estrutura patriarcal. (João de Carvalho, Jornal O Liberal, ed. de 04/08/2013).
E existem as crianças que passam por agressões diariamente, que vivem em um ambiente de prostituição, drogas, brigas. Crianças sem o pai, sem a mãe ou sem ninguém. Rosas e Cionek (2006) ressaltam a importância de as crianças serem cuidadas simplesmente pelo fato de estarem em fase de desenvolvimento, afinal, para que se desenvolvam de uma forma equilibrada, é preciso que o ambiente familiar propicie condições saudáveis, o que inclui estímulos positivos, equilíbrio, boa relação familiar, vínculo afetivo, diálogo, entre outros.
Para Hirschi (1969), os vínculos de afeto do adolescente com os pais, professores e amigos, atuam como um forte detentor da rebeldia. O acatamento aos pais é o mais importante dos vínculos sociais. Nesse sentido, demonstrou que a obediência aos genitores era inversamente proporcional a rebeldia: quanto mais identificado com os pais, com seus anseios e expectativas, menos provável envolvimento no agir. Também a escola e os amigos estão numa relação inversa com a rebeldia e funciona como inibidores dessa espécie de comportamento.
Os pais que outrora, eram presentes, na infância dos filhos, atualmente não influenciam mais nas decisões desses adultos. O diálogo entre os mais velhos e seus pais, praticamente inexiste, assim a geração acaba por não buscar seus conselhos. O diálogo com os filhos sempre foi praticado, e continua sendo, mas acaba se perdendo em algum ponto onde o adulto, preocupado com sua própria família deixa de buscar a sabedoria do mais velhos. O que distancia as gerações de adultos.
Com as mães indo ao mercado de trabalho cada vez mais cedo as crianças acabam por frequentar a escola com idade muito reduzida, ao contrário de seus pais e/ou avós. A geração mais antiga frequentava a escola por volta dos sete anos de idade, hoje muitas crianças vão para a creche em torno de 1 ano de idade. O que faz com que as crianças tomem decisões cada vez mais cedo.
Vigotsky percebeu que o adulto tem um papel fundamental no que as crianças sabem, à medida que cresce a criança precisa de um adulto para ajuda-las a entender como as coisas funcionam, Ele também observa que o adulto se adapta inconscientemente, para ajudar a informação chegar a criança, crianças usam adultos para aprender sobre sua cultura e sociedade (Gopnik et al, 1999).
O temperamento está no núcleo da personalidade, sensibilidade, irritabilidade e desvio de atenção e humores típicos (Braungart et al,1992). Crianças tímidas ou muito ousadas quando tiverem quatro ou cinco anos, em sua maioria serão somente moderadamente tímidas ou ousadas, sugerindo que temperamentos herdados são modificados pelo aprendizado (Kagan,1989). O ambiente somado às condições externas pode afetar uma pessoa. Geneticamente somos todos iguais. Experiências iniciais podem ter efeitos duradouros, assim como cuidados excessivos podem reverter os efeitos de um início de vida ruim (Bornsteim, 1995). Assim a ambiente influencia o desenvolvimento humano para melhor ou para pior durante toda vida.
Para Carl Rogers (1961), quando uma pessoa recebe muito amor e muita aceitação, ficam mais abertas a experiências e crescem mais suas intuições nos seus impulsos íntimos. Uma pessoa que se considera boa, mas não o é, vive um estado de incongruência. Uma discrepância na autoimagem fica confusa, vulnerável, insatisfeita ou gravemente desajustada. Ser autêntico é vital para o funcionamento saudável do indivíduo quanto maior a lacuna em como você se vê no mundo e a maneira que você gostaria de ser/ter maior a tensão e ansiedade você sente. Rogers acreditava que avaliações mais ou menos recebidas dos outros desenvolviam na criança padrões internos de avaliação denominados condição de valor.
Agradeço sua visita,
Selma Bueno Alves
Psicóloga Clínica
Pós graduanda em Neuropsicologia
CRP 02/22741
Referências
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Visitado em 07/06/2018
Trechos do artigo apresentado pelas alunas do sétimo período do curso de Psicologia, da Faculdade dos Guararapes à professora de Iniciação científica Maria de Fátima Casa Nova , em junho de 2018.
Daysiane de Cassia Buarque Brandão - CRP 02/22963
Polyanna Santos Novello de Souza
Selma Bueno Alves - CRP 02/22741
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