São também conhecidos como o desvio das normas de condutas que a criança em desenvolvimento apresenta em resposta a fatores biológicos e ambientais. Esses transtornos são divididos em quatro grupos:
- Hábitos – Atos repetitivos simples onde o componente emocional seria mais leve e ocorrendo com maior frequência na idade pré escolar com duração transitória;
- Conduta – Atos onde o componente emocional seria mais grave e que poderiam evoluir para a psiconeurose (Tiques, medos, sonambulismo);
- Perversões Sexuais e
- Dificuldades da Linguagem, Leitura e Escrita.
Os transtornos têm diferentes graus de gravidade, indo desde as condutas menores até consequências graves como rebelião, birra, destruição, incendiarismo, roubo etc.
Braceland (1937) define distúrbios de conduta como implicações no desenvolvimento do caráter, onde as crianças apresentariam irregularidades de caráter que impediam suas respostas aos métodos educacionais comuns.
Em 1945 Van Ophuijesem esclareceu a dinâmica desses distúrbios considerando-os como reação às forças ambientais. E depois com Kanner em 1948, os distúrbios da conduta foram isolados e caracterizados como problemas de conduta, diferenciando dos distúrbios psicossomáticos e das verdadeiras neuroses.
Pearson, mais tarde, em 1949 criou uma classificação dinâmica para a psicanálise sob o nome de distúrbios emocionais da criança, onde são considerados como reações diretas a erros presentes no meio ambiente.
Braun em 1952, embasado por FREUD e sua síndrome de neuroses de ansiedade atual, sugere que os distúrbios da conduta infantil, seriam tipos especiais de neuroses de ansiedade. Os distúrbios de conduta, seriam ”Ansiedade Pura”, aguda ou crônica como resposta ao conflito e não como defesa contra a ansiedade.
Blaun e Hulse, em 1956, avaliaram o distúrbio de conduta como expressão direta da ansiedade, e os distúrbios caracterológicos como delinquência, consideraram os traços neuróticos que acompanham o distúrbio de conduta como verdadeiros “sintomas psiconeuróticos”, ou seja, sintomas de defesa contra o conflito interno e ansiedade.
O desaparecimento dos sintomas não significa uma melhora, o distúrbio pode até ter se agravado, porém é sobre o sintoma existente que outro sintoma se sobrepõe à medida que a criança vai ultrapassando as fases de desenvolvimento.
Na fase em que se encontra a sintomatologia apresentada pode ser rotulada como diagnóstico atual e à medida que o ajustamento se torna mais patológico a criança manifesta um distúrbio da conduta com sintomas mais estruturados, considerados como traços neuróticos da personalidade, ou distúrbios neuróticos propriamente ditos.
O sintoma pode evoluir com a idade, assim a crianças com determinada idade podem iniciar com um sintoma do transtorno de conduta próprio de sua idade, o que se caracteriza como uma situação mais grave do que com outra idade, que se inicia apresentando sintomas de distúrbios próprios de idades anteriores. Exemplo: uma criança que apresenta características de distúrbio de conduta aos 7 anos de idade, é grave para essa idade, quando tem três significados:
1-Somente agora desencadearam os sintomas
2- A criança teve outros transtornos evolutivos que se transformaram, e agora porta o mais grave e que pode evoluir ainda mais (aos três anos tinha um diagnóstico e aos sete ele evoluiu)
3- A criança apresenta transtornos evolutivos e atualmente o mais grave é a escolaridade.
A conservação ou não dos transtornos anteriores, não altera o diagnóstico.
Na fase da latência (7 a 10 anos), dificilmente se desenvolvem novos transtornos, mas birra e ciúme, que são comuns em idades anteriores, se aparecerem aqui, darão uma conotação mais próxima da ansiedade e nos faz olhar com cuidado, pois o quadro, pode estar agravado.
Existe uma sequência na forma como os transtornos de conduta se iniciam, entendendo isso, entendemos o porquê eles não se desenvolvem na fase da latência. Em cada transtorno podem aparecer diferentes sintomas.> masturbação -> agressão sexual -> incesto -> fetichismo -> zoofilia -> prostituição.
- Hábitos e manipulações -> sucção do polegar -> roer as unhas -> sucção da língua -> puxar pelos e cabelos -> hábitos rítmicos -> devaneios.
- Transtornos e dificuldades da escolaridade -> adaptação escolar -> inquietude escolar -> insuficiência no rendimento escolar -> incapacidade para leitura (dislexia) -> incapacidade para escrita (disgrafia) -> incapacidade para matemática (discalculia) -> incapacidade para desenho.
Quando bem classificado a sintomatologia do caso temos ideia de sua gravidade e isso nos permite fazer um prognóstico, não nos habilita, no entanto, a fazer ideia das condições ambientas e reconhecer os aspectos etiológicos.
A etiologia faz a correlação entre a necessidade infantil, em cada fase ou estágio, que não foi satisfeita pelas atitudes patológicas dos pais, mas, motivada por desvios de personalidade deles. Essa classificação, assim como a sintomática, visa ajudar a planejar a terapêutica integral em relação à criança e não ao sintoma.
Na primeira infância a falta de cuidados físicos e emocionais com características psicológicas de dependência a partir do 7º mês toma aspectos agressivos. Os desvios de personalidade da mãe nesta fase podem ser sintetizados em:
- Ressentimento contra a criança ou exagero de anseios maternos
- Medo de falhar como mãe
- Rejeição da função biológica feminina ou rejeição da própria função de mãe.
E correspondem a estes desvios:
- Superproteção
- Ansiedade
- Rejeição
A superproteção é possível que corresponda aos seguintes distúrbios iniciais -> alimentação -> sono -> motricidade -> linguagem -> sociabilidade -> manipulação.
A ansiedade pode corresponder a -> alimentação -> sono -> linguagem -> manipulação
A rejeição pode corresponder a -> alimentação -> sono -> linguagem -> motricidade - > manipulação, de início, ou diretamente, ansiedade ou sintomas delinquentes.
Na segunda fase vem a necessidade de treinos e relacionamento afetivo com a família, uma característica da dependência. Os desvios de personalidade, da mãe ou do pai, por exigências desmensuradas ou compulsão, ainda, desinteresse e negligência no relacionamento. As atitudes patológicas correspondentes seriam perfeccionismo e abandono.
- Perfeccionismo -> sono -> alimentação -> manipulação -> birra.
- Ao abandono -> sono -> alimentação -> motricidade -> birra -> ciúme.
Na fase pré escolar as necessidades estariam ligadas â sociabilidade, ao interesse pelas coisas exteriores e a aceitação por esses interesses. As características dessa fase são a curiosidade (principalmente a sexual) e hostilidade à autoridade familiar. O mais importante desvio de personalidade dos pais seriam os derivados dos problemas sexuais e das dificuldades em aceitar a hostilidade infantil. A sedução e hostilidade representam as atitudes patológicas da fase.
- Sedução ->manipulação -> Sociabilidade -> sociabilidade -> ciúme -> ansiedade.
- Hostilidade -> birra -> manipulações -> sociabilidade -> escolaridade -> ansiedade.
Na fase escolar ou latência, as necessidades seriam educacionais e de identificação, as características psicológicas de identificação familiar e ambiental e diminuição da dependência familiar. Raramente algum transtorno de conduta se inicia neste estágio, no entanto, se os pais apresentam dificuldades educacionais, as atitudes próprias são de malformação educacional e o problema fundamental da escolaridade pode estar associado a birra e ciúmes, bem próximos da ansiedade.
Agradeço sua visita,
Selma Bueno Alves
Psicóloga Clínica
Pós graduanda em Neuropsicologia
CRP 02/22741
Referências
BLAU. A., e HULSE, W.C.Anxiety (actual) Nerosis as a Causa of Behavior Disordes in Children. Am J. Orthopychiat., 26:108, 1956
BRACELAND, F. J.: Behavior Problems: Definition; Classification and Scope Pens. Med. J., 41:80, 1937
GRÜNSPUN, HAIM, Distúrbios Neuróticos da criança - 2ª reimpressão da 4ª edição , livraria Atheneu - Rio de janeiro -São Paulo - 1984
KANNER, L. CHILD Psychiatry, Sringfield, III. Charles C. Thomas, 1948
PEARSON,G.W.J.: Emotional Disorders of Children. N.Y.,W.W. Norton & Co., 1949
VAN OPHUIJSEN, J.H.W.: Primary Conduct Disturbances: Their Diagnostics as Treatment. In
LEWIS, N.D.C., E PACELLA, B.L.: Modern treats in Child Psychiatry. N.Y. Ins. Univ. Press,1945
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