“Normal é como o tempo, chove ou faz frio, venta ou não. É como o dia que é seguido pela noite, que é seguida pelo dia. É o crescer e o morrer”
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Normal e Patológico, quando se pode dizer que certo comportamento passou do limite e não podemos mais chamá-lo de “normal”. O que é um comportamento normal? Seria este um comportamento ao qual a criança faz o que a família espera, não dá trabalho, não briga, brinca com todos, come de tudo, vai a todos os lugares e não reclama de nada? E Patológico seria um comportamento onde a criança desafia seus pais e familiares, exige o que quer ou o faz de forma diferente, escolhe o que comer e de que forma come isso, brinca de forma diferente com seus brinquedos. Qual é o ponto, onde podemos dizer, que esse comportamento não é mais normal?
Definir o que é normal ou patológico é mais difícil do que parece. Alguém extremamente conservador pode ser considerado como um psicótico ou aquele morador excêntrico, recluso, pode ser considerado o mais sã e normal da cidade, alguém pode ser considerado maluco pela sua forma de agir é tentador fazer julgamentos rápidos a respeito da saúde mental de uma pessoa. O estudo dos distúrbios mentais é chamado de psicopatologia, que também se refere aos distúrbios mentais propriamente ditos (depressão, ansiedade, esquizofrenia) e aos padrões de comportamento que deixam as pessoas infelizes e atrapalham seu crescimento pessoal (BUTCHER et al, 2004).
A maturação é entendida como uma sequência de processos aos quais o ser humano passa desde o nascimento até a maturidade, obedecendo um plano genético pré determinado e normalmente, não influenciado pelo ambiente. A maturação se delineia em quatro categorias, a física, a emocional, a intelectual e a social, através das funções fisiológicas. Avalia-se o crescimento pelo tamanho, peso, forma e estrutura podendo ser mensurada numericamente. Já a maturação, não pode ser numericamente mensurada, são inter-relacionados e coexistentes, a diferença e que crescimento conseguimos acompanhar através de medidas e maturação não. Assim como o crescimento, a maturação, também é delineada por quatro condutas: a física, a emocional, a intelectual e a social. Geralmente, na prática utilizamos características físicas e intelectuais para mensurar crescimento e a característica emocional e social quando queremos mensurar a maturação.
A conduta geralmente é conceituada no sentido funcional, desde o nascimento ela evolui progressivamente e é mutável, somente quando o ser humano atinge a maturidade é que a conduta se torna estruturada. As condutas podem ser influenciadas pelo ambiente onde a criança está inserida ou serem congênitas e não influenciáveis. O contato com essa conduta, ainda não estabilizada, faz toda diferença e distingue o atendimento do adulto e da criança. A observação da conduta infantil nos dá a imagem da evolução de sua própria personalidade. Uma conduta normal, significa que a personalidade evolui normalmente, uma conduta anormal, reflete a perturbação da personalidade e uma patologia. Se faz necessário acompanhar individualmente cada caso, para que se averigue, em qual fase de desenvolvimento essa criança se encontra e se suas atividades condizem com sua idade.
No primeiro ano de vida a criança necessita de afeto, em especial da figura da mãe, somente no segundo ano o pai vai adquirem importância e se torna necessário no terceiro e quinto ano. Sptiz e Vakwin (1984) são concludentes em suas observações de que a falta de afeto pode levar a morte por carência afetiva, segundo eles, a amamentação, natural ou não, deve ser feita sempre no mesmo horário e pela mesma pessoa.
O tempo que a mãe dispensa ao recém-nascido vai dando a segurança de que o alimento não faltará, ele é totalmente passivo, dependente da mãe. Somente aos 3 – 4 meses o bebê vai começar a antecipara chegada do alimento por conhecer a rotina da mãe. A medida em que desenvolve a audição e a visão ele vai se tornando mais independente, tomando consciência de si. O ajustamento da criança torna-se real quando o equilíbrio entre conduta e satisfação satisfazem gradualmente suas necessidades. Ao se antecipar as necessidades ou afetos a esse filho, a mãe, causará distúrbios de conduta. Alguns fatores congênitos também devem ser considerados, algumas crianças são mais sensíveis a ruídos, dores ou fome, dentre outros, cabe a mãe, reconhecer estas sensibilidades.
“A criança que não recebe suficiente afeto neste primeiro ano de vida, projetará as consequentes sensações no ambiente e não terá, por isso, equilíbrio emocional necessário para aceitar o mundo e nele ser aceito” Haim Grünspun, pag.4, 1984
No segundo e terceiro anos de vida a criança experimenta uma quantidade maior de objetos e fica mais tempo afastada da mãe tornando-se cada vez mais independente, é a fase da socialização familiar descrita por Kanner.
A palavra “Não” é usada para o início da fase da educação, mas ela só terá compreensão de a fase do afeto tiver sido satisfatória, caso contrário ela acarretará novos problemas na conduta, a criança passa a confirmar a sensação de abandono vivida na fase anterior. Nessa faze a hostilidade aos irmãos é frequente, quer ser reconhecida como independente pelos mais velhos e passa a enfrentá-los ou, em relação aos menores, quando comparada à sua própria fase anterior, acabam por ser obstáculos ao seu crescimento. A falta de estabilidade emocional e da assistência familiar acarreta sérias dificuldades de passagem para a próxima fase.
A criança precisa de companhia para brincar ou jogar, é a fase da socialização que chega, aqui a criança tem necessidade de liderar e de aprender a respeitar um líder. Nesta fase a criança apresenta a curiosidade sexual e ao seu final se identifica com seu próprio sexo. A ausência da correspondência afetiva segura, fará com que a criança se torne insegura com relação sua auto afirmação. Ocorre a separação da fantasia e do real, a criança agora passa a distinguir imaginário de realidade, por essa razão, talvez, passe a ter vários medos do real (animais, escuro etc.).
Quando as necessidades da criança são adequadamente atendidas elas constituem a base para a evolução harmoniosa. Na fase escolar encontramos um outro ambiente para adaptação da criança, se já existir uma problemática anterior aqui ela se destacará, por isso chama-se de latência. O ambiente escolar é o mais importante, é aqui que aparecem os problemas educacionais e de aprendizagem que se refletem no cotidiano. A participação dos pais nesse período é a complementação do processo educacional no lar e mantêm a harmonia psíquica. Este é um período de insegurança, em contraste com a auto confiança do período anterior, mas, até os 10 anos de idade uma nova evolução de confiança se instala, é nesta idade que se impõe com grande facilidade certa agressividade.
Amor genuíno e aceitação de suas necessidades são exigências da infância para desenvolvimento da personalidade. A criança precisará, ainda do adulto, para sua maturação, a compreensão. Quando existe desequilíbrio entre as exigências infantis e sua satisfação, abrir-se-á um caminho para o desenvolvimento de uma neurose. A conduta patológica se inicia na luta pela satisfação das necessidades da criança, sua auto realização não acontece quando ela percebe e sente que o ambiente predominante é de rejeição aberta ou encoberta. Se for explorada e seduzida dentro de suas necessidades atuais; se ela for aceita somente quando corresponde a certos padrões preestabelecidos; se atritos e hostilidades forem inibidos por alguma autoridade, sua autorrealização não acontecerá.
A agressividade com evidência de desafio e rebelião podem aparecer nas fases da infância e no início da adolescência, uma tentativa de luta com o outro para tentar escapar aos conflitos internos e liberar a ansiedade, são consideradas fases defensivas e a criança atua por meio de sua conduta perturbada.
Os determinantes culturais são outro ponto de conflito, para Opler, a mente, além de um funcionamento mental, é definida como organização de crenças, atitudes e modos mentais de uma determinada cultura. A cultura é referida como atitudes básicas de valores, convenções, tradições, código de ética, aceitos por uma sociedade. A cultura se modifica através de fatores econômicos, sociais e tecnológicos, é transmitida pela família, considerada uma unidade básica social. A cultura influência, ainda, o tipo de organização familiar e o papel de seus membros perante a sociedade, refletindo em todos os níveis biopsicossociais e são capazes de serem expressos em condutas normais ou patológicas. Segundo Kaplan, “A cultura reduz o número de decisões independentes que o sujeito precisa tomar na vida diária. Quando se tem uma tendência maior a mudanças nos elementos culturais aprendidos anteriormente a probabilidade de estresse psicológico é maior.
Sem dúvida a educação dos filhos está se tornando cada vez mais difícil, veículos de propaganda como a internet, televisão e rádio vieram para mudar conceitos estabelecidos em algumas centenas de anos. A organização familiar, antes patriarcal, agora toma várias outras formas, a independência feminina coloca essa mulher em igualdade ao homem, alterando a base familiar. O poder da propaganda acaba por transmitir aos pais as “normas da educação correta” em contra parida fica cada vez mais difícil as gerações determinadas pela autoridade absolutista entender esse novo modelo de autoridade, assim a disciplina familiar acaba tornando-se inconsistente, sem uma norma capaz de dirigir a personalidade para segurança social.
Existe uma tendência dos pais em darem uma ênfase no amor para com as crianças ligadas a superproteção na educação, muitas vezes, uma considerável pretensão de amor onde, por trás, encontramos rejeição e abandono. Por outro lado, sentimentos hostis e agressivos apresentados pelas crianças são encarados como ingratidão perante o amor que recebem, os pais, então, respondem com a retirada do afeto ostensivamente. Assim a criança percebe que obediência e submissão, são mais aceitos que a agressividade. Os ensinamentos verbais dessa cultura valorizam a independência e o individualismo, que acabam por gerar nessa criança conflitos na decisão, considerados componentes de valor consistente, a necessidade da família alcançar sucesso e posição social mais elevada projeta-se nos filhos, que recebem a educação “perfeita” para esta ansiedade de “subir no sentido cultural. Dá-se valor aos aspectos conceituais e intelectuais da criança e rejeição os aspectos orgânicos, sensuais e perceptuais
Agradeço sua visita,
Selma Bueno Alves
Psicóloga Clínica
Pós graduanda em Neuropsicologia
CRP 02/22741
Referências
COON, DENNIS, Introdução a Psicologia : Uma Jornada ? Dennis Coon; [tradução Eliane Kanner, Helena Bonini; Suely Sonce Murai Cuccio] -- São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006
GRÜNSPUN, HAIM, Distúrbios Neuróticos da Criança – 2ª reimpressão da 4ª edição – Livraria Atheneu – Rio de Janeiro – São Paulo, 1984
KAPLAN, M.:The Social and Economics Sources ofPsychological Stress. Am. J. Orthopsychiat., 33:280, 1963.
OPLER, R,A.: Cultural Antropology and Social Psychiatryu. Am. J. Psychiat., 113:302, 1956.
SPITZ, R.A.: Emotional Growt in the firstYear. Child Study, 24:68, 1947.
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