RESUMO- O número de encaminhamentos para avaliação de crianças com possível transtornos de desenvolvimento tem aumentado muito na atualidade. Os pais têm encontrado dificuldades em educar ou mesmo dar limites. Os professores, por sua vez, não conseguem lidar com a diversidade de formas de educação que chegam as suas salas. Desde os primeiros anos da escola crianças que não tem o comportamento mais adequado, são encaminhadas para os mais diversos profissionais, para serem avaliadas e inseridas em algum transtorno de desenvolvimento. Essa avaliação, caso se comprove o transtorno, virá a facilitar a vida da criança, , ela passa a ter o direito a um acompanhante terapêutico, em sala de aula, que cuidarão de ajudá-la a se desenvolver, minimizando suas dificuldades o máximo possível. Com base nisso este trabalho tem como objetivo apresentar os transtornos de desenvolvimento e suas bases no sistema nervoso central, apontando a neurociência como coadjuvante no tratamento e na melhora da qualidade de vida da criança e da família. O método utilizado é a pesquisa bibliográfica com foco na revisão literária, busca de artigos nas plataformas: BDTD, LILACs, BVS e Google acadêmico. Pesquisa qualitativa com objetividade no descrever, a hierarquização e a precisão ao contextualizar a busca por resultados fidedignos. O método fenomenológico de pesquisa corrobora com aspectos ligados a situações existenciais onde a descrição da vivência do pesquisador e dos procedimentos fenomenológicos se tornam comuns.
PALAVRAS-CHAVE: neurociência, Gestalt-terapia, neurodesenvolvimento.
1 INTRODUÇÃO
“Talvez a complexidade da mente humana seja tal que a solução para o problema nunca possa vir a ser conhecida, devido a nossas limitações intrínsecas. Talvez nem sequer devêssemos considerar que existe um problema, em vez disso, falar de um mistério, estabelecendo uma distinção entre as questões que podem ser adequadamente abordadas pela ciência e as que provavelmente nos iludirão sempre”. Damásio, Antônio R. (2012. Pag. 22.)
O processo de formação de um transtorno mental tem desafiado a psiquiatria, os determinantes somáticos que poderiam caracterizar esse fenômeno em termos biológicos estiveram presente em vários momentos da história da disciplina. O esclarecimento da etiologia seria uma etapa fundamental para a elaboração de uma prática diagnóstica, terapêutica e preventiva eficaz. Avanços nas tecnologias de pesquisa médica, especialmente as da genética, e o surgimento das possibilidades de investigação do cérebro mostram que uma revolução no entendimento dos transtornos mentais estaria em curso. A neurociência ocupariam então, um papel central, no campo da saúde mental como fonte de conhecimento válido científico e objetivo com capacidade para revelar as associações que conduzem a formação dos transtornos mentais.
Dividido em hemisférios e lobos o cérebro é o responsável por comandar todo o organismo do ser humano. Com cem bilhões de neurônios como estrutura básica e inúmeras funções suas atividades se dão pela transmissão de sinais elétricos, que se adaptam e se modificam na relação com o meio ambiente através dos cinco sentidos, sua plasticidade faz com que suas funções possam se alterar. A neurociência é o estudo científico desse sistema, investiga seu funcionamento, sua estrutura, seu funcionamento e suas alterações. Podemos acrescentar ainda nessa definição, as ciências naturais, que em seu princípio descrevem a estrutura das atividades neurais, buscando a compreensão dos fenômenos.
Os transtornos do neurodesenvolvimento são entendidos com o estado final de processos anormais de desenvolvimento do cérebro e que tem início antes da patologia se estabelecer. Presentes em momentos cruciais do desenvolvimento de um individuo que conduzem a modificações funcionais, como déficits cognitivos, alterações comportamentais, dificuldades na aprendizagem etc. que contribuem para o aumento da vulnerabilidade á doença e sinalizam para a possibilidade de seu aparecimento no futuro. Diversos fatores ambientais, relevantes ao desenvolvimento dos transtornos mentais vem sendo investigados, a compreensão do estresse e da dieta materna durante a gestação e variações nos cuidados maternos nas primeiras semanas de vida são fatores que exerceriam grande impacto nos chamados períodos de desenvolvimento, onde o sistema nervoso central tem maior flexibilidade anatômica e funcional. O interesse nos cuidados maternos na transmissão de comportamentos vem sendo observados com interesse apurado, assim como os mecanismos epigenéticos e seus efeitos no desenvolvimento neuronal.
O objetivo geral do trabalho é fazer a ligação entre a neurociência e os transtornos de desenvolvimento com base na abordagem da humanista existencial da Gestalt terapia, uma abordagem que unifica corpo e mente em um só constructo, entendendo que o ambiente afeta o ser humano e traz modificações em sua forma de sentir, pensar e agir. Apresentar os transtornos de desenvolvimento e as bases no sistema nervoso central. Ao se compreender a base de um transtorno de desenvolvimento, temos a oportunidade de orientar e desenvolver melhores tratamentos para que as pessoas em questão, ajudando sua rede de apoio embasados pela neurociência.
O método utilizado é a pesquisa bibliográfica com foco na revisão literária. Foi feita uma busca de artigos nas plataformas: BDTD, LILACs, BVS, Scielo e Google acadêmico usando como base as palavras neurociência, transtornos do neurodesenvolvimento e Gestalt terapia.
O trabalho está dividido em capítulos sendo o primeiro sobre a neurociência e possibilidades de investigação do cérebro humano, bases neuronais e genética. O segundo sobre os transtornos de neurodesenvolvimento bases neuronais e a influência do ambiente. No terceiro as possibilidades entre neurociência e a Gestalt-terapia no cuidado da pessoa e seus comportamentos.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A neurociência.
Neurociência é o estudo do sistema nervoso, tem o objetivo de investigar o funcionamento, a estrutura, o desenvolvimento e as alterações do cérebro contemplando suas diversas funções, através do método científico. Incorpora em sua definição as ciências naturais que estudam princípios que descrevem as atividades neurais na busca da compreensão dos fenômenos avaliados.
A busca por determinantes somático que caracterizem os transtornos do neurodesenvolvimento em termos biológicos tem se mostrado desafiadora, a etiologia seria idealmente uma etapa fundamental para a prática eficaz do diagnostico, da terapêutica e preventiva, entretanto, seguimos conhecendo muito pouco sobre à formação do transtorno. Nos anos 1970, a chamada “segunda psiquiatria biológica”, passa a investigar as patologias mentais, disposta a identificar possíveis determinantes orgânicos e a elaborar de uma classificação diagnóstica objetiva.
Os avanços proporcionados pelas tecnologias de pesquisa médica, especialmente no campo das pesquisas genéticas, e o surgimento de diversas possibilidades de investigação do cérebro, fizeram uma verdadeira revolução no que se refere ao entendimento dos transtornos mentais estaria em curso. A neurociência ocupa, nesse cenário, um papel central no campo da saúde mental, trazendo conhecimento científico e objetivo capaz de associar as causas que conduzem a formação dos transtornos mentais.
Segundo Tieppo, C.
Nem sempre o cérebro foi visto dessa maneira. Pelo contrário. Houve um longo caminho para chegarmos até aqui. Essa visão, aliás, é bem recente. E também ainda provisória. Imagine que estamos no meio de uma escalada, avançamos muito no entendimento do cérebro e estamos em um ponto da montanha que considerávamos completamente inacessível há apenas algumas décadas. Conseguimos entender com clareza muitos dos processos que antes eram completamente ignorados e temos uma visão bem melhor daqui deste patamar sobre a neurociência. 2019, pag 21
Antigamente tínhamos o funcionamento cerebral visto como curiosidade, não existiam equipamentos ou técnicas para um conhecimento mais precisos. Os egípcio em seus estudos, guardavam as vísceras, mas, o cérebro era descartado. Com a evolução da ciência percebe-se a necessidade de estudar o sistema nervoso e alguns pesquisadores tentam explicar como o cérebro funciona.
O sistema nervoso vem à tona com Herófilo de Calcedônia e Erasístrato de Chio, que, alguns anos após a morte de Aristóteles, dissecaram centenas de cadáveres, superando o tabu da continuidade da alma, eles descrevem o corpo humano e o cérebro pormenorizadamente, proporcionando um enorme avanço científico, passando a serem considerados, respectivamente, o pai da anatomia e o pai da fisiologia. A grande revelação foi a descoberta do sistema nervoso, eles perceberam fibras que saiam do crânio e da espinha e se espalhavam por todo o corpo. Distinguiram vasos sanguíneos, diferenciaram nervos motores dos sensitivos e revelaram ventrículos.
Galeno de Pérgamo surge 400 anos depois, ao contrário de seus inspiradores, Galeno não dissecava cadáveres, mas observava através das fendas dos ferimentos. Galeno prendia-se aos humores, aos elementos em ação ligados a bile negra, bile amarela, fleuma e sangue. Sua medicina durou cerca de mil anos afastando a questão do corpo colaborando para a visão de algo sujo, pecaminoso e não digno de atenção. A medicina de Galeno foi um obstáculo para o avanço intelectual, contribuiu para a degradação da condição física do homem, debilitando sua saúde.
René Descartes aparece no final do século XVII traz o pensamento dualista sobre o homem criando a desculpa necessária para que se estudasse o corpo sem comprometer a alma, com o objetivo de investigar o corpo e seu funcionamento, começa a estudar os movimentos reflexos. Para poder estudar sem a intromissão da igreja desenvolve a teoria de que corpo e mente são separados.
No século XVIII o pouco conhecimento existente era baseado em hipóteses, a partir de experimentos feitos com cadáveres de animais e seres humanos, que eram dissecados e observados. Os cientistas passam a dar importância as substâncias branca e cinzenta. Uma série de estruturas anatômicas foram diferenciadas e pressupunham que deveriam ter funções distintas. Luigi Galvani e Boy Reymond demonstram que os músculos se movimentavam quando os nervos eram estimulados, derrubando a teoria de que o cérebro funcionava através de fluidos, ou, do sopro dos espíritos. Ao final do século XVIII o sistema nervoso já havia sido completamente dissecado, percebendo que todos os seres humanos tinham o mesmo padrão de giros, sulcos e que o cérebro podia ser dividido em lobos e mapeados, dando início a nova jornada de discussões sobre a localização das funções cerebrais e suas áreas.
Franz Joseph Gall (1758-1888) foi o primeiro estudioso a fazer considerações a respeito de neuroanatomia, sendo o pioneiro a ilustrar as circunvoluções corticais, seus estudos abriram evidências para o córtex e suas funções especificas. O cientista francês Pierre Flourens (1825) lutou contra as teorias de Gall, mostrando que elas estavam equivocadas, conseguindo demonstrar que os hemisférios cerebrais eram responsáveis pelas funções cognitivas superiores, fala, visão, orientação e movimentos. Ainda, que o cerebelo, é o responsável pela regulação e integração dos movimentos, que o tronco cerebral era importante para o controle das funções vitais, como respiração, batimento cardíaco, regulação da pressão arterial. O cérebro humano é um órgão complexo, ele é responsável por coordenar as informações vindas dos sentidos, do sistema imunológico e das emoções, é o centro de controle do movimento, sono, fome, sede e quase todas as atividades vitais necessárias à sobrevivência. Amor, o ódio, o medo, a ira, alegria e a tristeza, também são controladas pelo cérebro, ele recebe e interpreta os inúmeros sinais que o organismo e o ambiente enviam.
A mente ganha espaço com Will James no final do século XIX, considerado pai da psicologia, James traz os fluxos de consciência, misturando em sua obra fisiologia, psicologia e filosofia. Era um funcionalista e materialista que desejava explicar o fenômeno mental a partir do corpo.
O grande salto da neurociência se deu com Camilo Golgi que desenvolveu a técnica de tingimento do tecido nervoso com nitrato de prata que permitiu a identificação das células nervosas, permitindo o avanço nos estudos da estrutura e anatomia do cérebro. No final do século XIX não sabíamos do que o cérebro era feito exatamente, conhecíamos a anatomia e fisiologia dos órgãos assim como sua estrutura celular, mas, não se enxergava os neurônios e isso impossibilitava saber como era o funcionamento. Quando Golgi desenvolve a técnica da reação negra e torna possível ver a formação neuronal em uma lâmina, possibilitando a visão do neurônio, concebendo a luz sobre a neurociência permitindo se relacionar a estrutura física do neurônio a atividade elétrica no cérebro.
A neurociência avança para as cirurgias no cérebro e mapeia as regiões não mais em cadáveres, mas agora, em seres vivos. Áreas do cérebro são mapeadas por Broca, responsável pela expressão da linguagem; Wernick, responsável pela compreensão sonora; circuito de Papez como condutor das emoções. No início dos anos 80 as neuroimagens revolucionam as neurociências por possibilitar uma visão mais dinâmica do sistema nervoso em planos e cortes. Mostra não só o funcionamento anormal, mas, traz agora, o saudável em diferentes atividades fala espontânea, leitura, pensamento, raciocínio, ou seja, nas funções executivas. Aqui também surgem as medicações, ressaltando que as adversidades não seriam apenas da mente e que seria possível tratar problemas que estavam ligados a neurotransmissão, como depressão.
A década de 90 é dada como a década do cérebro, o aparecimento da ressonância magnética, a tomografia funcional, pet scan, tomografia por emissão de prótons e outras técnicas resultam no aprofundamento do conhecimento do cérebro.
Segundo Kandel apud Tieppo, Carla 2019, pag. 47 “A neurociência moderna representa uma fusão da biologia molecular com a neuropsicologia, anatomia, embriologia, biologia celular e a psicologia. Para ele a abordagem transdisciplinar é que nos fará avançar no entendimento do cérebro”.
2.2 Os transtornos de neurodesenvolvimento.
Chamamos reducionismo a ideia de que todas as coisas e objetos complexos e, aparentemente diferentes, podem ser explicados por princípios universais que controlariam componentes fundamentais comuns. Um meio para explicar as desigualdades sociais, riquezas e poder, observadas nas sociedades capitalistas industriais contemporâneas, que definiriam os comportamento humanos como características naturais das sociedades, considerando que, se as desigualdades são determinadas biologicamente, então elas são inevitáveis e imutáveis.
O determinantes somático que caracterizaria um transtorno de neurodesenvolvimento tem sido buscado em termos biológicos e tem se mostrado desafiador, a etiologia seria idealmente uma etapa fundamental para a prática eficaz do diagnostico, da terapêutica e da prevenção, entretanto, seguimos conhecendo muito pouco sobre à formação dos transtornos.
Os avanços proporcionados pelas tecnologias de pesquisa médica, especialmente no campo das pesquisas genéticas, e o surgimento de diversas possibilidades de investigação do cérebro, uma verdadeira revolução no que se refere ao entendimento dos transtornos mentais estaria em curso. A neurociência ocupam, nesse cenário, um papel central no campo da saúde mental, trazendo conhecimento científico e objetivo capaz de associar as causas que conduzem a formação dos transtornos mentais.
Explicações psicológicas e ambientais sobre a formação dos transtornos mentais foram enfraquecendo, quando no campo psiquiátrico, a defesa da hipótese biológica passou a fazer discursos dirigidos sobre o entendimento da patologia. Até os anos 1980 a psiquiatria social e as teorias psicológicas e sociológicas vigoravam como referência primordial, quando então, foram questionadas pelas primeiras teorias das neurocientíficas. Na metade do século XX as explicações sobre o adoecimento mental apresentavam-se como justificativas antagônicas, impedindo qualquer possibilidade de compreensão que articulasse de forma complementar os campos biológico e psicossocial. O predomínio do modelo biológico para os transtornos mentais influencia as possibilidades terapêuticas ofertadas à saúde mental, privilegiando intervenções medicamentosas e objetivas , esvaziando as demais formas de cuidado, causando a remedicalização da psiquiatria e a ascensão do conhecimento neurocientífico.
Gradativamente a partir dos anos 2.000, se inaugura a percepção de que os processos saúde-doença não podem ser descritos adequadamente em modelos lineares, que se fundamental em uma casualidade unidirecional e com lógica na previsibilidade como eram caracterizados anteriormente, e que tendem a ser superados a partir do século XXI. Baseado agora nas noções da epigenética, neurodesenvolvimento e plasticidade neuronal, onde se identificam os principais operadores conceituais do novo modelo, com hipóteses e argumentos presentes nas investigações da neurociência e psiquiatria, que agora, em conjunto, passam a indicar uma importante modificação nas principais teses sobre a determinação biológica dos transtornos mentais.
O entendimento dos transtornos mentais e de neurodesenvolvimento, vem sendo valorizado como forma de explicar o caráter crônico e progressivo das patologias mentais. A concepção do neurodesenvolvimento expõe um campo fértil quando considera fenômenos patológicos mentais, buscando a conexão entre as experiencias vividas na infância e adolescência com as patologias apresentadas na vida adulta, cruzando com outros resultados epidemiológicos estudados em instituições de pesquisa ou clínica. Considera-se, por consequência, que o campo vivencial tenha sofrido vulnerabilidades em um período de desenvolvimento crítico para o cérebro deste indivíduo culminando no aparecimento da patologia. Nesta perspectiva é importante compreender o papel do ambiente nos processos cerebrais que se desenvolvem lentamente e causam modificações duradouras nos circuitos cerebrais.
Desde a gestação as atitudes da mãe influenciam na formação do caráter do bebê, turbulências nesse período e nos períodos posteriores são indicativos de transtornos mentais por gerarem ansiedade e depressão que são a base de transtornos mentais mais graves ou crônicos. Para que o bebê desenvolva seu self experiencias sensoriais dosadas de contato, autonomia e abertura precisam estar presentes. Autonomia e abertura faram a moldagem da fronteira de contato, ali serão realizados ajustes criativos e delinearão a formação de sua singularidade como pessoa. A maneira como a mãe lida com essa criança e seus impulsos agressivos irão favorecer a forma como ele se expressará no futuro. Uma retaliação desses comportamentos pode não favorecer à sua maneira de expressar. (Carol e Oklander (1997) apud Poppa)
Existe uma série de distúrbios que, quando associados, indicam lesões no Sistema Nervoso central (SNC) em crianças com autismo, a cada dia a neurociência busca compreender processos mentais pelos quais aprendemos, agimos e nos lembramos. As pesquisas apontam para causas multifatoriais, mas, a linha de pensamento sobre neurônios espelho tem estimulado as pesquisas. Executar e compreender ações e intenções das outras pessoas, o significado social do comportamento e suas emoções é a especialidade dos neurônios espelho, sendo a base das habilidades sociais. No DSM-V (299.00 / F84.0) autismo é descrito como parte dos Transtornos de neurodesenvolvimento. Apresenta uma falta de resposta e interesse, por pessoas, contato visual exíguo, expressões faciais empobrecidas, dificuldade em iniciar ou manter conversas, padrões restritos , repetitivos e estereotipados do comportamento, obsessão por certos objetos, ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriada para seu nível de desenvolvimento. A hipótese é que seja de base genética, não necessariamente hereditária, que associada ao ambiente, poderiam fazer algumas modificações neuronais. Considera-se, portanto, que existam pessoas com “projetos de cérebros” diferenciados, cada um é único apesar de sofrerem alterações precoces na interação social impactando em seu desenvolvimento global, em qualquer uma das áreas de comunicação, estereotipias, comportamentos ou interesses, com forte influência genética se suscetibilidade.
O déficit intelectual caracteriza-se por um funcionamento do intelecto inferior à média das pessoas e está presente em quase 100% dos casos de síndrome de Down. Na educação, as neurociências, dão sua contribuição no sentido de que cada sujeito é único, com um significado e uma identidade singular. Ao entender o cérebro humano passamos a saber o funcionamento e apontamos para as mudanças em como ensiná-lo. O sujeito com deficiência intelectual, deve seguir um currículo adaptado as suas limitações, ele possui um ritmo mais lento que os demais, seu desenvolvimento deve ser respeitado.
Segundo o DSM-V é um transtorno com início no período de desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático. O termo Deficiência Intelectual veio para substituir o termo Retardo Mental, através de uma lei nos EUA (Public Law 111-256, Rosa's Law) , é um termo de uso comum por médicos, educadores e outros, além do público leigo e grupos de defesa dos direitos. Os vários níveis de gravidade se definem com base no funcionamento adaptativo, e não em escores de QI, uma vez que o funcionamento é que vai determinar o nível de apoio necessário.
A linguagem é o meio pelo qual se manifestam os processos intelectuais superiores. A expressão vocal a maneira mais conhecida de se realizar contato social, é a base sobre a qual de desenvolve a cultura humana. A palavra falada é o resultado de contrações musculares automáticas simples do conjunto composto de cordas vocais, véu palatino, diafragma, maxilares, língua e lábios, que eliminam o ar pela abertura da boca, numa combinação de contrações com pressão apropriada, entretanto, cada som emitido tem uma complexa integração no Sistema Nervoso central.
Observamos que cada função do organismo tem sua base no sistema nervoso central. Cada uma destas funções pode sofrer influência do ambiente, desde o tratamento recebido na gestação, a forma como foi recebido e tratado na família, juntamente com a formação do sistema nervoso central, são um conjunto de dados que marcam as bases dos transtornos de neurodesenvolvimento.
2.3 Neurociência e a Gestalt-terapia.
A Gestalt terapia é uma abordagem fenomenológica existencial que busca discutir a realidade humana sem partir de estruturas psíquicas, Perls (1997) mostra uma visão de homem com sua abertura, liberdade, possibilidades, criatividade, auto-organização e que busca seu sentido de vida. Para Perls, podemos estudar os processos fisiológicos ou psicológicos, mas este entendimento de estruturas e mecanismos não é a compreensão da vida, mas seria sua abstração. Segundo Perls (1997), o ser humano tem a possibilidade de ser-no-mundo de várias maneiras e em níveis qualitativamente distintos. Perls assinala o nível do pensar e o nível do agir. Ainda, segundo ele, sofremos de um sentimento de desconexão (de não ser eu mesmo) visto que experimentamos o eu (pensar/sentir), o corpo e o mundo distintamente.
O cérebro rege o corpo através de unidades funcionais fundamentais ao sistema nervoso chamadas neurônios. O cérebro é composto por bilhões de neurônios que transportam informações e ativam músculos e glândulas. Cada neurônio recebe e envia informações de outros vários outros neurônios e de si próprio. O cérebro controla funções vitais do corpo, ele acompanha o que acontece no mundo exterior e interior, emite comandos responde as necessidades, cria o ilusionismo da consciência e regula o próprio comportamento, uma máquina perfeita que faz tudo ao mesmo tempo.
Para Damásio (2004) o corpo é basicamente onde tudo começa, é onde a mente obtém força e se desenvolve, sem corpo não há mente, sem mente não há consciência. A construção das imagens do corpo para o autor está dividida em duas espécies de imagens, as de carne, imagens fundadas na representação interior do corpo, vísceras e do meio interno e as imagens nativas das chamadas sondas sensitivas especiais (órgãos sensitivos periféricos) como o globo ocular e a pele, que são receptores de estímulos sensoriais e se transformam em imagens, de alguma forma, representando as mudanças do estado do corpo. Pensamentos e sentimentos são indissociáveis e, assim como memórias, chegam acompanhadas por afetos. A visão mente e corpo integrados resultam no comportamento do sujeito e abrange a complexa relação de fatores biopsicossociais, afastando-se das explicações causais alinhadas e aproximando a mente do dialético.
A neurociência explica que a memória inconsciente envolve diversos sistemas cerebrais: a associação de sentimentos a eventos ocorridos envolve uma estrutura denominada amígdala; a amigdala controla os efeitos dos neurotransmissores sobre a memória e está diretamente ligada às reações de fuga e luta. Quando estamos expostos a estímulos traumáticos a amigdala é ativada. Outras partes do cérebro são acionadas para outras ações como por exemplo hábitos motores (andar ou correr), envolvem o estriado; e as habilidades motoras e atividades coordenadas, como aquelas necessárias para pedalar a bicicleta, envolvem o cerebelo. Assim, cada parte no cérebro que é destinada a guardar um tipo de lembrança, e ao menor sinal de perigo, ela volta mobilizando circuitos cerebrais prejudicados e produzindo uma quantidade incongruente de hormônios do estresse.
3 CONCLUSÃO.
As neurociências ocupam um papel fundamental no estudo dos transtornos de neurodesenvolvimento. Desde a gestação até a fase adulta, o ambiente pode influenciar na forma como as informações chegam ao cérebro. Com os avanços nas pesquisas médicas, especialmente na genética, surge uma revolução no entendimento dos transtornos mentais e seu curso. Os transtornos do neurodesenvolvimento são entendidos com o estado final de processos anormais de desenvolvimento do cérebro e que tem início antes da patologia se estabelecer. Momentos cruciais do desenvolvimento de um indivíduo conduzem a modificações funcionais, como déficits cognitivos, alterações comportamentais, dificuldades na aprendizagem contribuindo para o aumento da vulnerabilidade a doença. Diversos fatores ambientais, relevantes ao desenvolvimento dos transtornos mentais vem sendo investigados, a compreensão do estresse e da dieta materna durante a gestação e variações nos cuidados maternos nas primeiras semanas de vida são fatores que exerceriam grande impacto nos chamados períodos de desenvolvimento, onde o sistema nervoso central tem maior flexibilidade anatômica e funcional, assim como a epigenética e seus efeitos no desenvolvimento neuronal.
A Gestalt-terapia, uma abordagem que vê o homem como ser completo, mente e corpo sendo uma só unidade. Apresenta um homem com possibilidade, criatividade auto-organização, liberdade e abertura na busca pelo sentido de sua vida, onde os processos fisiológicos ou psicológicos seriam uma generalização, um mecanismo para entendimento, não a compreensão da vida. Para a Gestalt terapia o sentir/pensar/agir deve ser coerente e fluir no homem, quando um destes níveis não está fluindo corretamente, o homem sofre um sentimento de desconexão.
4 REFERÊNCIAS.
A abordagem gestáltica e a testemunha ocular da terapia. The Gestalt approch & Eye Witness to Terapy – PERLS, Fritz. – Traduzido da primeira edição publicada em 1973 por Science and Behavior Books Palo Alto California – Estados Unidos da América. 2ª ed Rio de Janeiro: LTC. 1988
O Erro de Descartes, razão e cérebro humano / Antonio R. Damásio ; tradução Dora Vucebte, Georgina Segurado. – 3ª ed. – São Paulo : Companhia das Letras, 2012. Pag. 22.
DSM-V [American Psychiatric Association; tradução; Maria Inês Corrêa Nascimento ... et.el.];revisão técnica: Aristides Von Patto Cordioli ..[et.al.]. – 5.ed. – Porto Alegre : Artmed,214 XLIV,948p.;25cm.
Medicina Psicossomática – Princípios e Aplicações. ALEXANDER, F Porto Alegre: Artes Médicas, 1989 pag.32, 202,
Uma viagem pelo cérebro : a via rápida para entender neurociência / Carla Tieppo; ilustrações Shutterstock, Editora Conectomus – 1 ed. Ver. E atual. – 1ª reimpr. – São Paulo, SP editora Conectomus, 2021 pags .21; 27; 29; 33; 36; 37; 44; 45; 46; 47.
Artigos
FREITAS-SILVA, Luna Rodrigues; ORTEGA, Francisco. A determinação biológica dos transtornos mentais: uma discussão a partir de teses neurocientíficas recentes. Cadernos de Saúde Pública, v. 32, p. e00168115, 2016.
https://doi.org/10.1590/0102-311X00168115Acessado em nov. de 2022
ANTONY, Sheila Maria da Rocha. Os ajustamentos criativos da criança em sofrimento: uma compreensão da gestalt-terapia sobre as principais psicopatologias da infância. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 9, n. 2, set. 2009 . Disponível em : http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812009000200007 Acessado em 15 dez 2022.
BRZOZOWSKI, Fabiola Stolf; CAPONI, Sandra. Determinismo biológico e as neurociências no caso do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 22, p. 941-961, 2012 https://www.scielosp.org/article/physis/2012.v22n3/941-961/pt/ . Acessado em 12 dez. 2022.
FRAZÃO, L. Pensamento diagnóstico processual: uma visão gestáltica de diagnóstico. Revista do II Encontro Goiano de Gestalt-Terapia, Goiânia, n. 2, p. 27-31, 1996.
https://www.scielo.br/j/physis/a/7qZWj5qRGy5yrVLnpV8CqZj/abstract/?lang=pt Acessado em 10 de dez.2022.
POPPA, Carla Cristina. O Processo De Crescimento Em Gestalt Terapia: Um Diálogo Com A Teoria Do Amadurecimento De Donald W. Winnicott https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/15263 Acessado em 20 nov. 2022.
Selma Bueno Alves
Psicóloga Clínica
Neuropsicóloga
Neurocientista
CRP 02/22741
Comments