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Foto do escritorSelma Bueno Alves

O HUMOR E A OPINIÃO ALHEIA.

Atualizado: 13 de jan. de 2021



Muitas são as diferenças de pensamento e comportamentos que interferem na vida do ser humano, a sociedade discute comportamentos há séculos. Acreditamos em uns, desconfiamos de outros. Educamos nossos filhos para que sejam respeitosos e não respondam mal aos adultos. Engolir o choro e comer sem reclamar. A interpretação de um fato tem vários olhares, o seu, o do outro o da sociedade e o da comunidade onde vivemos. Qual é o certo e qual o errado?




A história de toda família tem origem no mesmo ponto, bem lá atrás. Com o passar do tempo cada uma colocou suas regras e leis que, em seguida, as pessoas devem se adequar a outras regras e leis comuns para que se sobreviva em sociedade. As leis e regras individuais, fazem com que cada núcleo tenha sua opinião e dificulta o convívio em sociedade quando essa opinião é exposta por qualquer razão.


A interpretação dos fatos se baseia nessa família de origem, nas crenças e nos valores que recebemos de nossos pais, avós, tataravós etc. Quando a pessoa se casa, junto com o parceiro, modificam essas leis, agregando valores e leis da outra família, para que possam conviver bem na nova união. Se as famílias de origem forem saudáveis, os membros da nova união, terão dinâmicas saudáveis para somar e passar adiante. Trazendo o melhor de cada família de origem, formam uma nova família, com regras, valores e leis atualizados, e educam seus filhos com essas regras, que não fogem, por completo, das famílias de origem.


Dalai lama já dizia: - De a quem você ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.


Quando a família está adoecida ou disfuncional ela passa regras que são disfuncionais ou adoecidas na criação de seus filhos. Uma família disfuncional é aquela onde um dos membros acredita ser superior, ser melhor ou mesmo proprietário do outro membro, ao invés de caminharem juntos um sempre domina os outros. Aqui teremos muitas combinações, pai dominando mãe, mão dominando pai, pai ou mãe dominando os filhos, filhos dominando seus pais, avós dominando a nova família e seus membros, aqui os membros da família só podem seguir uma opinião, a da família de origem.

A família adoecida acaba por adoecer as futuras gerações, cria dependências, maximizando ou minimizando a interpretação dos fatos em torno desse membro. Como os membros dependem da aprovação da família de origem para fazer qualquer atividade, acabam ficando presos a essa dinâmica doentia e passando para gerações futuras. Somente quando algum membro resolve fazer diferente, se desgarrando do rebanho é que se tem a modificação destas regras, esse membro geralmente, passa a ser visto como “fora da caixinha”, a pessoa que não aceita nossas regras e leis e deve ser “banida do grupo’’.

Pessoas com ideias próprias não são bem vistas em famílias disfuncionais, mas, são elas que tiram os herdeiros desse adoecimento conjunto, modificando o futuro das gerações, substituindo dinâmicas doentias por dinâmicas saudáveis. Muitas vezes a pessoa pensa diferente do grupo familiar, mas, não tem forças para encarar a família, se sente obrigada a permanecer ali, mesmo contra sua vontade, não quer ser “banida”, ela então não se casa, ou, se casa mas não tem filhos, porque não pretende dar continuidade a essa dinâmica. Certamente que isso não é explicito em cada sujeito, só percebemos ao lermos nas entrelinhas de suas histórias.

Sair do adoecimento é processo de terapia e, para que isso aconteça, o indivíduo precisa identificar o que o adoece e desejar se modificar. Tomar essa decisão não é uma tarefa fácil ela causa muitas dores e perdas antes que algo seja modificado. É preciso muita determinação para tentar mudar as futuras gerações.

A melhor maneira de ser feliz é fazendo-se feliz, felicidade vem de dentro de cada um e irradia para o mundo. Não tem como ser feliz alguém que deposita sua felicidade na mão do outro, alguém que não tem voz própria. A criança interior que cada um carrega dentro de si pode ser rebelde, malcriada ou, na melhor das hipóteses, bem educada, mas, deixar que ela ganhe destaque em sua vida de adulto e te guie é uma opção que cada um faz.

Como seres humanos que somos, cada pessoa tem uma forma de receber o que o ambiente oferece, seja isso, alimento, amizade, dificuldades. Alguns ignoram, outros se aproveitam e crescem, outros ainda, guardam estas ofertas da vida e vão acumulando pequenos detalhes que lhes foi oferecido, mas, como uma xicara de chá, quando a pessoa se enche ela transborda.

Quando transbordamos os sentimentos acumulados, sejam eles bons ou ruins, respingamos em todos a nossa volta. Se esses sentimentos forem bons, faremos muitos um pouco mais felizes. Se esses sentimentos forem de ressentimentos ou frustrações, acabamos por adoecer e adoecemos aos que estão ao nosso entorno.

O humor tem várias faces e é multifatorial. Humor pode ser fiel a região onde a pessoa nasceu, e assim, quando algum texto ou livro é traduzido, o humor deve ser interpretado no novo idioma e por vezes não se encontra a mesma graça que existia no texto original, porque para quem não é da região, não faz sentido aquela piada.

Freud (1959) dizia que o humor tem grande importância na vida da pessoa, ele analisa o humor do ponto de vista constitutivos e de suas funções. Na da elaboração onírica e na construção do chiste (piada/graça), em ambos os casos ele se encontram no deslocamento, na condensação, na unificação, na representação e omissão com características de economia. Já quanto as funções, Freud conclui que, como nos sonhos, a Chiste (piada /graça) se destina à satisfação de um desejo ou a produção de um prazer em última estância. Faz parte de um processo de defesa saudável, permitindo acesso ao consciente do conteúdo associado ao sentimento penoso, uma forma de converter desprazer em prazer. Freud não se deteve muito na análise das particularidades verbais do humor, estava mais interessado em investigar o papel que o inconsciente desempenha nesta formação e a sua funcionalidade: como produzir prazer através da economia da energia psíquica antes investida no recalque de um conteúdo inconsciente.

A Semantic Script Theory of Humot – SSTH, uma proposta de Raskin (1985), também chamada de “Teoria dos dois scripts”, no Brasil, diz que apesar de opostos e distintos, são compatíveis. Define como um feixe de informações sobre determinado assunto, como rotinas de atividades a realizar que se continuem numa estrutura cognitiva internalizada pelo falante, que permite saber como o mundo se organiza e funciona, uma sequência tipicamente estereotipada, predeterminada, além de serem objetos cognitivos, os scripts estão intimamente relacionados a itens regionais e podem ser por eles evocados. Podendo ser compatíveis, parcial ou integralmente, com scripts que se oponham em um sentido especial (real/não real – bom/mal – etc.)

O sujeito durante uma conversa ou leitura se depara com um gatilho, que, traz à tona uma situação anterior que ele imediatamente junta ao script atual dando novo sentido. O mesmo script pode se repetir inúmeras vezes. A piada representa, portanto, uma enunciação-limite, que ilumina um aspecto potencialmente "falho" do sistema da língua. Podendo acontecer o fracasso que deve ser considerado estrutural pelo fato de poder sempre falhar, porque não há enunciado humorístico em si. O que é engraçado para um grupo ou para um falante pode não ser para outro (como muitas vezes ocorre).

A definição daquela piada também pode ser alterada com o tempo ou um grupo pode considerar engraçado e outro não. Independente de quaisquer outros fatores, basta que não haja o conhecimento de tal piada compartilhada ou que uma saturação dela, para que o riso não ocorra.

Segundo Freud, a ingenuidade verbal coincide com o chiste (piada) na expressão e no conteúdo, a diferença entre o chistoso (engraçadinho) e o ingênuo dependerá exclusivamente de supormos que o indivíduo teve a intenção de fazer um graça ou que, ao contrário, se fez deduzir de boa-fé uma consequência, deixando-se guiar por sua ignorância infantil (1959: 183-184).

Observando as características do humor podemos tentar entender o porquê muitas vezes não rimos ou achamos graça do que o outro pensa ou fala. A interpretação dos fatos depende de muitos fatores, para além da forma como fomos criados de desde a nossa infância, mais rígida ou menos rígida. O ambiente onde vivemos também influencia, as situações pelas quais estamos passando são fundamentais para completar esse contexto. Algumas pessoas são mais resilientes, outras muito pouco. Os assuntos sobre os quais se estão fazendo as piadas, são ponto fundamental, pois mexem com o brio das pessoas.

Um sorriso largo e bonito diz muito da forma com que a pessoa está vivendo, seu humor reflete seu estado psíquico, com o biopsicossocial na realidade, interesses políticos, opção sexual, moradia, educação etc. Quando se está no comando da sua vida ou quando nos sentimos completos, o humor é mais fácil, mais leve. Quando se está passando por dificuldades fica mais difícil sorrir ou mesmo achar graça de qualquer piada dita. Isso serve para piadas ao vivo, na internet, em livros ou qualquer outro contexto.

Viver é dolorido, feliz é o homem que consegue rir da própria desgraça. Freud diria que se você ri de algo, é porque esse algo, toca uma verdade inconsciente, assim, rir de questões que mexam com você, que te toque sensivelmente bem lá no fundo, é natural.




"Toda vez que você tem certezas absolutas, você está parado em algum lugar".




Agradeço sua visita,

Selma Bueno Alves

Psicóloga Clínica

Pós graduanda em Neuropsicologia

CRP 02/22741



Referencias

FREUD, Sigmund. 1959. Obras Completas de Sigmund Freud. Trad. C. Magalhães de Freitas e Isaac Izecksohn. Rio de Janeiro: Delta, 10v. Parte 1: O Chiste e Sua Relação com o Inconsciente: 3-242. [ Links ]


_____. 1976. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Trad. do alemão e do inglês sob a direção-geral e revisão técnica de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 24v. V. XVII: O "estranho": 273-318. [ Links ]


Electronic Document Format(ISO)

ROSAS, Marta. Por uma teoria da tradução do humor. DELTA [online]. 2003, vol.19, n.spe [cited 2020-04-09], pp.133-161. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502003000300009&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-4450. https://doi.org/10.1590/S0102-44502003000300009.








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