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Foto do escritorSelma Bueno Alves

Os efeitos positivos na música na cognição


“Cantar pode proporcionar ao indivíduo uma oportunidade de expressar o inexpressivo, de dar voz a um conjunto de sentimentos. Cantar músicas significativas frequentemente produz, a liberação da emoção, devido ao efeito desta música, da letra e das memórias e associações conectadas com a canção” (AUSTIN, 2008, p.20).


Nas últimas décadas, o avanço das Neurociências tem possibilitado uma maior compreensão sobre a relação entre música e nosso sistema nervoso. A percepção do som envolve uma série de estruturas Cerebrais.


Para AUSTIN, 2008, p.20, o hipocampo no cérebro é a região que se ativa em situações em que, associamos uma música a um momento que nos marcou de forma profunda. O hipocampo está localizado no sistema límbico, que é o centro responsável por nossas emoções.


Segundo LEVITIN; TIROVOLAS, 2009 a percepção musical envolve desde a percepção auditiva do som, até o reconhecimento de seus parâmetros básicos (altura, duração, timbre e intensidade) e as relações entre eles. A percepção, primária do som, quanto ao seu entendimento sintático, é modulada pela experiência emocional de se ouvir uma música. A integração de áreas corticais do cérebro com o sistema límbico, faz com que o processamento musical seja influenciado pela emoção.


 Ao ser decodificado pelas estruturas cerebrais, como os do córtex frontal e o parietal, o estímulo musical, caso esteja relacionado a algo que gostamos fará com que o cérebro libere neurotransmissores ligados ao prazer, como dopamina e serotonina, este estímulo então será atribuído como positivo.


Se a música que estamos ouvindo estiver relacionada a algo que não gostamos, o cérebro irá agrega-lo um estímulo negativo, e a experiência também será negativa, dessa forma liberaremos uma série de substâncias que estarão relacionadas ao estresse como o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina e as repercussões secundárias, em nosso organismo, poderão não ser  benéficos a nossa saúde fisiológica e mental (HOSTINAR, et al., 2014).


É preciso se conscientizar de que a música pode promover saúde a quem a usufrui, porém é necessário usar com responsabilidade.


A música está presente na vida das pessoas de diversas formas, seja ouvindo música no rádio, no carro, assistindo a filmes ou propagandas de televisão, indo a concertos, shows ou mesmo estudando um instrumento musical.


A música, junto à linguagem, é um dos traços exclusivos dos seres humanos. Apesar do canto dos pássaros e alguns tipos de comunicação entre primatas e baleias, nenhuma outra espécie possui esses dois domínios organizados da maneira como são nos seres humanos (MITHEN, 2006).


Um aspecto importante da música, tanto em sua percepção quanto em sua produção é a capacidade de gerar interações auditivo-motoras no cérebro de quem executa e, também, no de quem ouve, especialmente nas melodias.


Música e linguagem são processadas de maneira independentes no cérebro, havendo predominância do hemisfério direito no processamento musical e do hemisfério esquerdo para processamento de linguagem. (ZATORRE; BELIN; PENHUME, 2002; PFEUTY; PERETZ, 2010).


OVERY (2003) conduziu estudos relacionando habilidades linguísticas e musicais em crianças disléxicas e saudáveis. Pacientes com dislexia, são aqueles que apresentam dificuldades de timing e ritmo tanto em linguagem quanto em música. Os resultados dos experimentos indicam que disléxicos apresentam os mesmos problemas na música assim como em linguagem, envolvendo dificuldades motoras com ritmos e dificuldades com rápidos estímulos auditivos. Além disso, um dos experimentos de OVERY propunha um programa de aulas de música com duração de 15 semanas, específico para disléxicos, contendo exercícios de ritmo e canto. O resultado mostra melhora na capacidade fonológica dos disléxicos e na capacidade de soletrar palavras. No entanto, não apresenta melhora na capacidade de leitura destes sujeitos.


Indivíduos autistas, com déficits linguísticos graves, podem se beneficiar de terapias relacionadas ao canto. Embora não haja muitos estudos relacionando música e benefícios linguísticos para este público, existem relatos de casos isolados com resultados positivos na aquisição de linguagem para eles. No entanto, estudos ainda devem ser conduzidos nessa área para que se possa propor um tratamento específico para autistas envolvendo música (WAN et al., 2010).


A capacidade da música de evocar emoções é uma das características mais bem reconhecidas pelos ouvintes. Desde a Antiguidade, discute-se a capacidade da música em evocar sentimentos. Estudos indicam que a música recrutaria estruturas do sistema límbico e paralímbico e não apenas áreas corticais do cérebro (KOELSCH, 2010). Nesse sentido, indicam que a audição de música agradável implica o recrutamento de regiões cerebrais relacionadas ao sistema de recompensa.


O estudo conduzido por DRAPEAU et al. (2009) avaliou o reconhecimento de emoções em faces, voz e música por pacientes com Alzheimer. Os resultados mostraram que os pacientes perdiam somente a capacidade de reconhecer emoções em faces, mantendo a capacidade de reconhecimento de emoções em vozes e música. O melhor entendimento desse processo pode levar a contribuições para o tratamento da doença por meio da música.


O uso da música como recurso mnemônico traz dúvidas a respeito da natureza da memória para música. Não sabemos se a memória para música pode ter as mesmas características que a memória para outros tipos de eventos. Não se sabe por que razão a música facilita a aquisição de memória. A existência de pacientes com demência, que se esquecem de fatos da própria vida, mas são capazes de cantar canções da infância sem maiores problemas indicam que, se não é especial, a memória para música é, ao menos, diferente da memória para fatos e imagens do cotidiano.


Relatos indicam que alguns casos de pacientes que sofrem de demência, com atrofia do lobo temporal esquerdo, apresentam perda de memória semântica, esquecendo-se de palavras e nomes de objetos. No entanto, músicos com demência, apesar de apresentarem a perda da memória semântica, não apresentam a perda da memória musical (WEINSTEIN et al., 2011).


Estudos indicam que há diferenças estruturais entre cérebros de músicos e não músicos. São apontadas em músicos maior volume do córtex auditivo, maior concentração de massa cinzenta no córtex motor, maior corpo caloso anterior. Apesar das correlações encontradas, não se sabe se as mudanças no cérebro de músicos foram induzidas pelo estudo de música ou se já havia uma predisposição para o desenvolvimento delas anterior ao estudo de música (ZATORRE; CHEN; PENHUME, 2007; SCHLAUG et al., 1995).


A música é uma força poderosa na vida das pessoas. É importante que nossas crianças tenham educação musical, precisamos defender e valorizar a educação musical. Desenvolver habilidade e perícia levam tempo e considerável esforço, assim como grande variedade de atividades musicais.


Para HUMMES, 2004 a música acaba por contribuir para a formação global do aluno, desenvolvendo a capacidade de se expressar através de uma linguagem não-verbal e os sentimentos e emoções, a sensibilidade, o intelecto, o corpo e a personalidade. A música favorece uma série de áreas da criança incluindo a “sensibilidade”, a “motricidade”, o “raciocínio”, a transmissão e o resgate de uma série de elementos da cultura.


A música na realidade é uma aliada no desenvolvimento cognitivo das crianças!

Como vimos acima estudos têm demonstrado que a exposição regular à música pode ter uma série de efeitos positivos no cérebro em desenvolvimento, contribuindo para um aprendizado mais eficaz e uma melhor habilidade de processamento de informações.


Aqui estão alguns dos benefícios fascinantes que a música pode proporcionar:

Estimulação Multissensorial: A música envolve múltiplos sentidos, como audição, visão e movimento. Isso estimula o cérebro de forma abrangente, promovendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas, motoras e sensoriais.


Melhoria da Memória e da Atenção: O ritmo e a melodia da música podem ajudar a melhorar a memória e a atenção das crianças. O processo de aprender a tocar um instrumento musical, por exemplo, envolve repetição e prática, o que fortalece as conexões neurais relacionadas à memória e ao foco.


Desenvolvimento da Linguagem e da Comunicação: A exposição à música desde cedo está associada a um melhor desenvolvimento da linguagem e da comunicação. Cantar músicas infantis, por exemplo, ajuda as crianças a aprender novas palavras, ritmos e padrões sonoros.


Estímulo da Criatividade e da Expressão: A música oferece às crianças um meio poderoso de expressão criativa. Cantar, dançar e improvisar estimulam a imaginação e ajudam as crianças a desenvolver sua própria voz e identidade artística.


Redução do Estresse e da Ansiedade: A música tem o poder de acalmar e relaxar, ajudando as crianças a lidar com o estresse e a ansiedade. Ouvir música suave antes de dormir, por exemplo, pode promover um sono mais tranquilo e reparador.


Portanto, não subestime o poder da música na vida das nossas crianças!

🎶 Incentive-as a explorar diferentes estilos musicais, participar de aulas de música e integrar a música em suas atividades diárias. Juntos, podemos promover um desenvolvimento cognitivo saudável e inspirador! 🎵 



Selma Bueno Alves

Psicóloga e Neuropsicóloga

CRP 02/22741



Referências


A MÚSICA POR UMA ÓPTICA NEUROCIENTÍFICA – Viviane Cristina da Rocha (Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP) vivianerocha85@gmail.com Paulo Sérgio Boggio (Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP) paulo.boggio@mackenzie.br em  ROCHA, V. C.; BOGGIO, P. S. A música por uma óptica neurocientífica. Per Musi, Belo Horizonte, n.27, 2013, p.132-140 Recebido em: 10/09/2011- Aprovado em: 12/05/2012

Ministério Da Cultura e Vale Apresentam – A MÚSICA NA ESCOLA - Gisele Jordão, Renata R. Allucci, Sergio Molina, Adriana Miritello Terahata (Coordenadores), Allucci & Associados Comunicações - São Paulo – 2012 - O conteúdo deste livro está disponível no site www.amusicanaescola.com.br

CZERESNIA, D.; Freitas C. M. (Org.). Promoção de Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2003. pp. 39-53.

GATTINO, G.; RODRIGUES, I.; ARAÚJO, G.. Evidências do processamento auditivo-musical nos transtornos do espectro autista. In: Simpósio de Cognição e Artes Musicais- Edição Nacional, 10, Campinas. Anais... Campinas: ABCM., 2014.

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