A doença Psicossomática é uma doença de fundo emocional e está diretamente relacionada aos ajustes criativos feitos pela criança em sua infância, ao tornar-se adulto essas cristalizações que se formaram na fronteira contato acabam por bloquear o sujeito impedindo-o de funcionar livremente. Os ajustes feitos na infância foram cristalizando nos momentos em que a criança se percebeu em dificuldades ou quando não pode se expressar com queria, ainda quando não recebeu a atenção que precisava e na hierarquia na dominância das situações a Gestalten anterior prevalece.
O termo Psicossomática em Gestalt é visto como o PSIQUICO e o SOMÁTICO ou o que é da psique e o que é do soma. Uma junção do sujeito como ser único e não divisível. Segundo Capra (1982) apud Ivanko, uma abordagem de embasamento holístico na saúde, no tratamento e na cura está de acordo com pensamentos e paradigmas mais tradicionais, bem como é coerente com as teorias científicas modernas.
Sujeitos que sofreram abusos ou maus tratos na infância apresentam uma maior possibilidade de ser acometido por doenças psicossomáticas na vida adulta. As Gestalten abertas se sobrepõem fazendo com que a primeira Gestalten se repita toda vez que uma memória equivalente a esse momento passe a ser figura, impedindo que o sujeito tome outra atitude ou decisão. O imaginário do adulto determina a maneira como algumas patologias agem, ao se manifestarem, mesmo nos níveis organísmicos, mas, cada sujeito é um ser individual e recebe as emoções de maneiras diferentes. Diferentes sujeitos têm diferentes reações em uma mesma patologia.
O ser humano se adapta a toda situação seja ela boa ou ruim. Uma criança que não recebe carinho, atenção e amparo durante sua infância faz ajustamentos, que podem não ser funcionais na fase adulta. Viver em lares onde violência e abusos são cometidos faz com que essa criança se adapte a modos incomuns de vida, faz com que crie ajustes para lidar com esse campo que deixam nela grandes marcas. As marcas passam de geração em geração, elas ficam impressas na mente, nas emoções, na capacidade de desfrutar de alegrias e prazeres, e até no sistema biológico e imunológico.
É preciso falar sinalizar aos pais e familiares sobre a importância de cada fase do desenvolvimento da criança, antes mesmo de uma gestação. Uma família consciente tem mais condições de talhar uma criança saciando suas necessidades afetivas e emocionais o que ajudaria para que ela se tornasse um adulto consciente em sua forma de pensar, sentir e agir.
Para Alexander, F. (1987) a neurologia abre o caminho para uma compreensão mais abrangente do relacionamento entre as diferentes partes do corpo, evidenciando que todas as partes desse corpo estão vinculadas a um sistema de comando central, órgãos vegetativos do sistema autônomo seriam diretamente influenciados pelo sistema nervoso. A fisiologia abordaria funções do sistema nervoso central e a psicologia fenômenos subjetivos, que são reflexões subjetivas do processo fisiológico.
Alexander, F. traz ainda a visão de Camon (1943) onde este explica que a memória inconsciente envolve diversos sistemas cerebrais: a associação de sentimentos a eventos ocorridos envolve uma estrutura denominada amígdala; a amígdala controla os efeitos dos neurotransmissores sobre a memória, está diretamente ligada às reações de fuga e luta. Quando estamos expostos a estímulos traumáticos a amigdala é ativada. Outras partes do cérebro são acionadas para outras ações como por exemplo os hábitos motores, como andar ou correr, envolvem o estriado; e as habilidades motoras e atividades coordenadas, como aquelas necessárias para pedalar a bicicleta, envolvem o cerebelo.
Para Gestalt terapia o desequilíbrio é o estado natural das coisas, a harmonia interna de cada sujeito é diferente do outro, temos prazeres e gostos diferenciados, assim se forma o ser completo e individual. Segundo Perls (1977) quando o sujeito se percebe muito doente, com dores insuportáveis, passa a prestar atenção a seu corpo. Ele não entende por que está adoecendo, não entende o que está fazendo e nem o porquê as dores acontecem. Ele então vai ao médico que, considera ser uma patologia funcional, sem qualquer dano fisiológico ou anatômico, o médico prognostica não haver nada de sério com ele e dá uma solução paliativa.
Deve-se ter em mente que cada sintoma orgânico tem um significado emocional para o paciente, do qual ele tira proveito para o alívio dos conflitos emocionais. Segundo Ivanko as dores não são curadas com cuidados paliativos e o sujeito começa a prestar atenção em seu corpo e sua personalidade passa para o fundo e dá voz para seu corpo. Mente e corpo passam a se conhecer. A doença é uma situação inacabada que acaba somente com a morte ou a cura.
A psicossomática é uma forma de usar a doença como expressão de linguagem para se obter a satisfação do corpo. O adoecimento é uma situação em que o sujeito se vê em um contexto que deixou de ser favorável para si e provoca uma obstrução em sua fronteira de contato. A medida em que cuidados não são oferecidos na infância, ele prossegue na vida adulta com essa lacuna, essa obstrução, que não o permite fluir livremente.
Selma Bueno Alves
Psicóloga clínica – CRP 02/22741
Neuropsicóloga
Gestalt-terapeuta
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