São transtornos onde se combinam diagnósticos de transtornos de Leitura – Dislexia, Matemática – Discalculia e de Expressão escrita – Disortografia, com transtornos de aprendizagem sem outra especificação. A origem dos transtornos de aprendizagem está no aspecto biológico, um transtorno do neurodesenvolvimento, inclui também uma interação de fatores genéticos, ambientais e epigenéticos, o que influencia a capacidade do cérebro para processar ou perceber as informações, tanto verbais como não-verbais.
A origem desse transtorno é biológica e a base das anormalidades no nível cognitivo estão associadas as manifestações comportamentais. Ele tem inicio durante nos primeiros anos da alfabetização diferente de habilidades como falar e andar, estes marcos chegam com a maturação cerebral. Uma característica essencial é a dificuldade persistente em aprender habilidades acadêmicas fundamentais, que deve ser observada por pelo menos seis meses, apesar de ter recebido ajuda adicional em casa ou na escola.
Esse transtorno perturba o aprendizado em todas as áreas acadêmicas, limitando o individuo. O desemprenho acadêmico deve estar bem abaixo da média para a idade ou desempenho mediano mantido por altos esforços e tendo apoio.
O transtorno específico de aprendizagem pode ocorrer em pessoas identificadas como intelectualmente "talentosas", que mantenham seu funcionamento acadêmico aparentemente adequado mediante estratégias compensatórias, esforço extraordinário e apoio, até que exigências de aprendizagem ou procedimentos avaliativos se façam necessários, impondo as barreiras à realização das tarefas exigidas.
A dificuldade de aprendizagem também não pode ser atribuída a fatores como desvantagem econômica ou ambiental, ausência geral de educação, transtornos neurológicos, motor ou deficiência visual ou auditivas.
A avaliação deve ser abrangente e só pode ser diagnosticado após inicio da fase escolar. O diagnóstico clínico baseia-se na história médica, de desenvolvimento, educacional e familiar. Incluindo a manifestação prévia e atual, profissional e social. A investigação deverá ser feita por profissionais especialistas em transtorno específico de aprendizagem e em avaliação psicológica. Visto que não deve haver alterações ao longo da vida, havendo alterações somente no curso e expressão, somente se houver a necessidade, para algum fim específico, as avaliações deverão ser refeitas.
Os prejuízos se apresentam em três modalidades e cada modalidade pode aparecer em três graus (leve, moderado e grave).
Prejuízo na leitura
*Dislexia
É uma dificuldade na aquisição e no uso da linguagem por déficits na compreensão ou na produção de vocabulários, na estrutura das frases e na produção de discursos, esses déficits ficam evidentes na comunicação falada escrita ou na linguagem de sinais.
É avaliado em duas modalidades, a capacidade expressiva, que se refere a produção de sinais gestuais ou verbais, e a capacidade receptiva que se refere ao processo de receber e compreender as mensagens linguísticas. Assim sendo as habilidades linguísticas precisam ser investigadas nas duas modalidades para que possam diferir a gravidade.
Este transtorno costuma afetar vocabulário e gramática e seus efeitos passam a limitar a capacidade para o discurso. As primeiras palavras e expressões da criança, surgem com atraso, o vocabulário é reduzido e sem variação, frases curtas e sem complexidade contendo erros gramaticais, principalmente quando descreve o passado.
Os déficits de linguagem costumam ser subestimados , uma vez que a criança pode se sair bem na utilização de contextos que dão sentido. Pode haver problemas em encontrar palavras, as definições verbais são pobres ou de compreensão insatisfatória de sinônimos, múltiplos significados ou jogos de palavras apropriados a idade e a cultura.
Os problemas para recordar palavras e frases novas fica mais evidente pela dificuldade em seguir instruções com mais palavras, dificuldades para guardar informações verbais (números de telefone, lista de compras) e dificuldades para lembrar sequências sonoras, importante para o aprendizado de novas palavras. Se evidência no discurso pobre, sem informações de eventos importantes e no narrar uma história coerente.
A dificuldade de linguagem fica clara, quando de forma quantitativa e substancial, estão longe do esperado para a idade, interferindo no sucesso acadêmico, profissional e na socialização.
O diagnóstico pode ser feito com base na história do sujeito, na observação clínica direta (ir à casa, à escola ou trabalho), além de escores em testes padronizados de capacidade linguística, que podem ser empregados para orientar e estimar a gravidade.
Geralmente um histórico de transtorno de linguagem familiar está presente. A criança pode se acomodar ao vocabulário oferecido. Podem ser tímidas, podem preferir se relacionar somente com os membros da família. O transtorno de linguagem, especialmente as deficiências expressivas, podem ser comórbidos com o transtorno da fala.
Os transtornos de linguagem são altamente herdáveis. Surgem durante o período do desenvolvimento, porém há uma variação considerável no início da aquisição de vocabulário e no início da combinação das palavras, as individualidades não servem de parâmetro preditivo de resultados posteriores. Por volta dos 4 anos de idade, as diferenças individuais ficam mais estáveis, com melhor precisão para estimativas, passando a ser preditivas.
O transtorno diagnosticado aos 4 anos de idade pode permanecer instável por um tempo, persistir na vida adulta, ainda que os pontos fortes e fracos em termos linguísticos, se modifiquem ao longo do desenvolvimento.
Prejuízo na expressão escrita
*Disortografia
É a presença, no início da aprendizagem, de erros frequentes na escrita que se semelham aos da leitura, como confusão, inversão, omissão, confusão de gêneros e número. A criança tem dificuldade em tomar notas em sala, tem um atraso geral no ritmo de trabalho, dificuldades de planejar e organizar, baixa autoestima causada pelo medo de ser descoberto ou de ser reprovado, e quando adulto medo de perder o emprego.
Prejuízos na matemática
*Discalculia
Consiste em uma falha no aprendizado dos primeiros elementos do cálculo, com dificuldades de realizar operações elementares. É mais rara que a Dislexia. Em sua forma mais completa é denominada Síndrome de Gerstmann e se associa a transtornos na aquisição de cálculos, não distingue direita-esquerda, disgrafia e apraxia construtiva. Frequentemente vem associada a disgnosia digital (reconhecimento consciente do corpo e do mundo exterior através de nossos sentidos) e a apraxia construtiva (tipos de erros de na construção ou reunião de elementos em dois ou mais planos), observam-se dificuldades em todos os campos da área de cálculo, entre os testes verbais e de execução. A discalculia verdadeira ocorre na infância, com uma dispraxia digital importante. Quando associada a transtornos de organização espacial, tem aparecimento mais tardio, sobre provas operacionais e não somente aquisição de números.
São elementos chave para o tratamento: as capacidades adaptativas e intelectuais, família, escola e comunidades, para construção de suporte adequado, onde, os recursos e estratégias que visam promover o desenvolvimento, bem estar, educação e os interesses de uma pessoa e que melhoram o funcionamento individual.
A abordagem terapêutica nos transtornos de aprendizagem é pouco influenciada pelas drogas. Faz-se necessária a organização do ambiente escolar e das atividades em casa, que devem se organizar e focar nos transtornos específicos de aprendizado, reeducação psicomotora centrada no esquema corporal e na abordagem do transtorno de aprendizado.
Um diagnóstico exclusivamente sindrômico tem pouca utilidade para os transtornos de desenvolvimento. A abordagem desses transtornos de base multifatorial, demanda grande maleabilidade e compreensão por parte do avaliador. Apenas com essa base multifatorial é possível rastrear esses transtornos de desenvolvimento adequadamente.
Agradeço sua visita,
Selma Bueno Alves
Psicóloga Clínica
Pós graduanda em Neuropsicologia
CRP 02/22741
Referências
Clínica Psiquiátrica de Bolso / Editores Orestes Vicente Forlenza, Eurípedes Constantino Miguel 2.ed. rev. e atual. –Barueri, SP : Manole, 2018
DSM-V [American Psychiatric Association; tradução; Maria Inês Corrêa Nascimento ... et.el.];revisão técnica: Aristides Von Patto Cordioli ..[et.al.]. – 5.ed. – Porto Alegre : Artmed,214 XLIV,948p.;25cm.